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O futuro dos jornais

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Sou fã do cheiro do papel e do toque das folhas. Sou fã do barulho e do tempo associados à cerimónia de virar cada página, de alisar o jornal e refletir sobre o teor da última notícia que li enquanto me disponibilizo para ler a seguinte. Sou daquelas pessoas que folheio o jornal do início ao fim e só numa segunda ronda me debruço sobre as notícias que decido ler. Mantenho esta rotina ao fim-de-semana, acompanhada de um café e uma fatia de bolo. Durante a semana, entre tempos de espera ou escapes do trabalho, deambulo através dos ecrãs nas plataformas digitais e, mediante a assertividade dos títulos, vou clicando para saber mais sobre cada notícia. É uma procura da notícia insípida, descomprometida. Faço-o sem envolvimento, predisposição, interesse ou conetividade da minha parte e constantemente sou interrompida por publicidade indesejada.

O acesso à notícia pelo meio físico despoleta a entrega e disponibilidade para as receber. As notícias digitais entram-nos pela vida adentro, confundem-se com a virtualidade, têm uma fraca seleção e, ironicamente, estando muito mais próximas de nós recebemo-las com um determinado afastamento, sem filtro e sem escala. Criam um impacto instantâneo e fugaz, que rapidamente é substituído por outra notícia de imediato. É um contato superficial que traz uma consciência superficial. Gerir este processo gera impaciência e desconexão. As notícias digitais geram um envolvimento volátil com a atualidade.

Especula-se muito sobre se os jornais em versão papel existirão no futuro. Temos assistido à alteração dos formatos para tamanhos mais friendly ao manuseio, mas hoje raramente vemos o jornal na rua debaixo do braço ou no banco do jardim ou até nas salas de espera e escritórios. Contudo, os leitores de papel manter-se-ão fiéis.

O interesse ao acesso a notícias em formato papel manterá a fidelidade. Atenderemos a reformular o negócio associado. Quiçá a versão papel tomará proporções de partilha e de gestão consciente e o contato com o jornal em papel talvez se torna num processo mais lúdico, baseado na experiência e conexão dos sentidos, mas, enquanto vivermos baseados no compromisso, haverá leitores e, enquanto houver leitores comprometidos, haverá jornal em versão papel.


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